Inteligência Artificial e o futuro da humanidade

Em um artigo que escrevi com o título “A (r)evolução das máquinas”, publicado em agosto de 2020 pelo JCS, mencionei que, em 15 de abril de 1983, em Villa Manin di Passariano, província de Udine, norte da Itália, aconteceu a convenção entre a indústria e o seguro sob o tema “Riscos da Informática”, cujos extratos foram publicados pela Assicurazione Generali. Em 1993, o texto foi traduzido e divulgado pelo então Instituto de Resseguros do Brasil (IRB-Brasil) para o mercado brasileiro.

À época, o presidente da Generali, Enrico Randone, na abertura da publicação informava que, “além de específico, o tema é ainda de enorme atualidade, seja por sua implicação estritamente técnica, seja, sob um plano mais geral, pelos reflexos que a evolução da informática está tendo e terá no campo econômico, jurídico, social, político, cultural e, em definitivo, sobre nosso viver cotidiano.”

Essa afirmação acima, teve, tem e terá muito mais amplitude do que poderíamos imaginar. Para tanto, faço a seguir uma retrospectiva de determinados fatos que foram objeto de filmografias, que de ficção estão passando a ser realidade. Então, vamos lá:

1983

War Operation Plan Response (WOPR). Esse era o nome original da Machine Learning ou Inteligência Artificial, cujo apelido era Joshua. No filme “Jogos de Guerra”, a máquina se utiliza de vários cenários que simula e, quanto mais simula mais aprende. Assim, quando um jovem hacker inicia um jogo de guerra total termonuclear, o sistema reage de acordo, sem saber diferenciar realidade de simulação e se encaminha para um ataque à antiga União Soviética.

1984

No filme “Terminator”, em 2029, uma inteligência artificial denominada Skynet é criada para toda a rede de defesa americana. Porém, sai de controle e considera todos os humanos como uma ameaça. Na série “As Crônicas de Sarah Connor”, a Skynet é uma Inteligência Artificial altamente avançada criada no final do século XX, operada, principalmente, por meio de robótica avançada e sistemas de computador, que, sendo os humanos considerados ameaça, envia uma série de exterminadores.

2004

Após vários anos do filme “Terminator”, foi lançado o filme “Eu Robô”, que ocorre em 2035 na cidade de Chicago, EUA, onde a evolução dos tempos levou o homem a construir robôs para auxiliá-lo nas diversas tarefas do dia a dia. Assim, as pessoas têm em suas casas um robô como se fosse um empregado, que obedecem aos seus senhores servindo em tarefas domésticas, menos para um policial que não acredita que essas máquinas sejam tão “boazinhas” como aparentam. Apesar de que, a USR que era a empresa que produzia os robôs tinha três regras básicas:

1. Um robô não pode por um ser humano em perigo;
2. Um robô deve obedecer às ordens dos humanos; e
3. Um robô pode se defender.

2017

Publicado pela Insurance Busines Mag e reproduzido pela Revista Apólice, a matéria “As máquinas não superam os subscritores de riscos” informava que trabalhadores portadores da síndrome do túnel do carpo não deveriam ser apressados para a volta ao trabalho para que não sofram a repetição da lesão. Essa recomendação poderia tranquilamente ser feita por um robô na AIG (EUA). Isso faria com que a companhia mantivesse os pagamentos de determinado valor em segurados previsíveis. Apesar de terem um arsenal de dados, uma matéria do Wall Street Journal demonstrou que a seguradora americana continua apostando no toque humano especialmente na subscrição, que pode ser imprevisível e receada de nuances.

Ela refletiu a crença da seguradora de que o julgamento humano ainda é necessário para classificar a maioria dos médios e grandes riscos dos negócios segurados. De acordo com Brett Hermann, subscritor técnico da seguradora tem-se que: “nós mergulhamos nos detalhes e trabalhamos em colaboração como um time”. No entanto, ter humanos nessa equação não impediu que as companhias investissem ainda mais na sua armada analítica.

Uma pesquisa à época feita pela Accenture revelou que 37% dos 550 seguradores entrevistados tinham planos de investir, nos próximos três anos, em máquinas com inteligência cognitiva. Eles estão redobrando esforços para combinar a inteligência humana com a rápida e efetiva Inteligência Artificial, conforme informou John Cusano, head global de seguros da Accenture.

Algoritmos funcionam bem para apólices padronizadas, como residências e automóveis ou para pequenos negócios, ou seja, quando os riscos são similares o suficiente para que os computadores juntem os números e tenha bons resultados. Mas o toque humano, no entanto, se torna um ingrediente essencial na subscrição quando os negócios se tornam maiores. Apólices mais específicas precisam de mais atenção individual, pois nelas os erros podem causar prejuízos muito maiores.

2022

No estertor deste ano, foi lançado o popular ChatGPT, que já é considerado muito badalado. Ele tem despertado a atenção de especialistas e leigos que se lançam no uso para os mais diferentes usos, estando maravilhados com os surpreendentes resultados obtidos. A Inteligência Artificial não é uma tecnologia nova. A ideia do filme “Eu Robô” e dos anteriores já assim o demonstravam, os filmes de ficção já davam sinais do que estava na cabeça do pessoal.

2023

Após muitos anos do lançamento do filme “Eu Robô”, uma crônica sobre a primeira incursão a respeito do trabalho trouxe o questionamento se ele causaria espanto assim como os anteriores que preconizaram a utilização da Inteligência Artificial. A resposta é: com certeza não! Ela já é uma realidade e trará impactos enormes em nossas vidas (lembre-se do que disse Enrico Randone, da Generali, em 1983).

Em 06 de março, saiu uma publicação de Patrick Greene, vice-presidente de Dados, da Munich Re Automation Solutions, que reporta: a medida em que a Inteligência Artificial e a tecnologia de aprendizado de máquina continuam crescendo e se expandindo no setor, eventualmente a IA deve ser totalmente integrada ao processo de subscrição de riscos. Quando perguntado se as empresas devem ser cautelosas em relação ao uso das tecnologias de IA em seguros, Greene explicou que, embora a tecnologia esteja em constante evolução, ela, em si, só pode ser tão boa quanto as pessoas que a implementam. Enquanto a indústria avança na direção certa, os líderes devem estar cientes de que o futuro campo de batalha está na detecção de viés, IA explicável (XAI – uma inteligência artificial explicável, é uma inteligência artificial em que os resultados da solução podem ser compreendidos por humanos) e no uso ético e regulamentado de dados pessoais. Se essas considerações forem incorporadas à transição agora, haverá potencial de transformar permanentemente o setor.

Em 03 de abril, outra publicação relativa ao assunto foi expedida pelo Instituto Ética Saúde, onde a informação é de que a Inteligência Artificial tem um papel cada vez mais importante no futuro da saúde, podendo ter um impacto significativo na melhoria do atendimento ao paciente, eficiência operacional e redução de custos.

Ela poderá ser utilizada em diagnósticos médicos e tratamentos onde, sistemas usam dados dos pacientes para ajudar a identificar sintomas de doenças, que podem ser difíceis de detectar pelos médicos e, ajudar a desenvolver drogas potenciais mais rapidamente e com maior precisão. Ainda, nessa linha poderão realizar monitoramento de sinais vitais em tempo real, assistência robótica em cirurgias, triagem de pacientes em tempo real e atendimento ao cliente por meio de chatbots e, essas tecnologias, devem continuar a evoluir e encontrar aplicações, proporcionando melhores resultados para pacientes e profissionais de saúde.

Informa ainda que a ética no uso da IA na saúde é fundamental para garantir que a tecnologia seja utilizada de forma justa, transparente e respeitosa com as pessoas envolvidas. Nesse sentido é preciso criar parâmetros e responsabilidades onde, enumeramos várias questões a serem consideradas.

1. Privacidade e proteção de dados;
2. Viés algorítmico;
3. Responsabilidade e tomada de decisão;
4. Consentimento dos pacientes.

 

A IA avançada pode representar uma mudança profunda na história da vida na Terra e deve ser planejada e gerenciada com cuidados e recursos proporcionais, o que efetivamente não está acontecendo.”

 

Em resumo, a ética deve ser considerada em todas as fases do desenvolvimento e implantação da IA na saúde, garantindo que a tecnologia seja usada de forma responsável, transparente e não discriminatória. Assim, como no cyber, a IA, independentemente de qualquer posição, trará novos riscos, até então conhecidos e mesmo desconhecidos. Nesse sentido, a Munich Re deu a largada para a incursão no mercado segurador na IA para oferta de cobertura por meio do produto denominado AiSure.

De acordo com a matéria, os números projetados espelham a popularização da IA em inúmeras atividades produtivas – do varejo, passando por alimentos e bebidas, ao automotivo, logística, seguros, entre outros. A ferramenta ChatGPT, especializada em diálogo e desenvolvida por IA, chamou a atenção do mundo ao produzir textos, responder perguntas e até compor letras de músicas.

Outro uso chamativo da IA é na indústria farmacêutica. Esse setor é uma das razões para o acelerado crescimento esperado nos próximos anos, dada a perspectiva de utilização intensiva nessa cadeia de valor, incluindo-se aí a fabricação de novos remédios, pesquisas e ensaios clínicos em todo o mundo. Podemos entender que estamos diante da transformação de uma ficção escrita na linha do tempo para uma realidade, tendo em vista vários pontos aqui descritos e que se coincidem com a atualidade.

Assim, a corrida desenfreada para a IA, por meio do ChatGPT, bem como a corrida da indústria de tecnologia para quem sai na frente no uso das ferramentas de IA, tiveram um momento histórico. Uma carta aberta assinada por mais de 1,3 mil cientistas empresários de tecnologia e representantes do meio acadêmico parece, em princípio, ter o mote de ser um freio. A referida carta foi assinada por Elon Musk, Steve Wozniak e pelas instituições Oxford, Cambridge, Stanforf, Columbia, além de empresas como Google, Microsoft, Amazon, e até o historiador Yuval N Harari. Ela informa que a IA com inteligência competitiva humana pode representar riscos profundos para a sociedade, o que está demonstrado por extensa pesquisa e reconhecido pelos principais laboratórios de IA.

Conforme declarado nos amplamente endossados “Princípios de IA de Asilomar”, a IA avançada pode representar uma mudança profunda na história da vida na Terra e deve ser planejada e gerenciada com cuidados e recursos proporcionais, o que efetivamente não está acontecendo. Nos últimos meses, verifica-se que laboratórios de IA estão travados em uma corrida descontrolada para desenvolver e implantar mentes digitais cada vez mais poderosas que ninguém, nem mesmo seus criadores, pode entender, prever ou controlar de forma confiável.

 

 

O ARTIGO ASSINADO É DE RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DO AUTOR, NÃO REFLETINDO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO SINCOR-SP

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