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Transporte por aplicativo: o mercado já está preparado?

Seguradoras, corretores de seguros e motoristas se adaptam para oferecer proteção adequada

Por Camila Correia

Desde o início da trajetória da Uber no Brasil, nada foi tão fácil quanto parecia ser. A empresa de transporte por aplicativo lutou contra a resistência da atividade, aprovação de regulamentação, preços, entre outras questões. Há mais de três anos no País, o atendimento se adaptou em alguns requisitos, como serviços voltados a ciclistas e pessoas com animais de estimação, além do aumento expressivo de veículos. A cidade de São Paulo já conta com 50 mil, superando os 38 mil táxis, de acordo com o prefeito João Dória (PSDB).

Em reportagem veiculada no JCS (edição 410 – set/2015), o desafio do mercado de seguros era encontrar seguradoras que aceitassem o risco. Na ocasião, apenas uma companhia atendia a demanda. Há 10 anos, por exemplo, olhavam o seguro de táxi com uma série de restrições. Hoje, o mercado já está adaptando o seguro de automóvel para o nicho, com a atenção em garantir segurança não apenas ao passageiro, mas também ao próprio motorista. A concorrência das empresas por aplicativo tem expandido. Cabify, 99, Easy Taxi e Lady Driver, assim como a Uber, os motoristas dessas redes também precisam estar protegidos.

Para os executivos das companhias, o seguro de automóvel comum não tem diferença para carros particulares de transporte, fica a critério de cada seguradora o modelo de negócios. “O risco é similar ao dos táxis. Ele possui as mesmas coberturas de um seguro auto tradicional, como, por exemplo, cobertura compreensiva (colisão, incêndio, roubo e furto), RCF-V (danos materiais e corporais) e diversos serviços. A identificação desses veículos se dá por uma única resposta do perfil, com isso oferecemos uma precificação mais adequada”, explica o diretor de Automóvel da Tokio Marine, Luiz Padial.

A Ituran trabalha com um perfil semelhante. “Não fazemos análise de perfil do condutor, então, para o nosso Ituran com Seguro, temos a mesma precificação e critérios de aceitação para os motoristas por aplicativos. Para esse cliente temos o plano básico, com cobertura
para roubo e furto, indenização de 100% da tabela Fipe e cinco acionamentos de assistências 24h por vigência. Podemos incluir a proteção de perda total por colisão e/ou cobertura de RCF-V”, conta o gerente Comercial da Ituran, Paulo Ramos.

Dúvidas sobre as coberturas ainda repercutem. No geral, os serviços de transporte por aplicativo exigem garantia de Acidentes Pessoais de Passageiros. A Uber oferece para os motoristas parceiros – como são chamados – quando começam a trabalhar proteção com despesas médicas de até R$ 5.000,00 por ocupante do veículo e cobertura de R$ 100.000,00 por pessoa em situação de invalidez permanente total/parcial ou em situações quando há óbito. Entretanto, fica a critério do profissional contratar um seguro adequado à sua necessidade. O motorista Juan Rafaine trabalha há quase um ano e meio e conta: “quando entrei na Uber
era obrigatório o seguro APP. Hoje não, é opcional”.

O corretor deve ficar bastante atento, principalmente na orientação aos seus segurados, para que forneçam as informações corretas na hora de calcular o seguro. Entendo que o mercado como um todo (corretores, seguradoras e sindicatos) deva fazer uma grande campanha de conscientização neste sentido. Por enquanto, as oportunidades não têm sido maiores que os riscos e as perdas
Richard Furck – Corretor de seguros

Gideon Soares da Silva é motorista parceiro há um ano e comenta que não precisou alterar a garantia veicular. “Quando comecei a trabalhar como Uber já tinha o seguro de automóvel. Mesmo assim, mantive a apólice, pois não foi necessário alterar o tipo de cobertura. Em janeiro sofri um sinistro, outro veículo da Uber bateu no meu carro. No momento, o seguro da motorista cobriu as despesas”.

As companhias investem para que o produto corresponda com o perfil do serviço. “Em relação ao APP, oferecemos uma cobertura de até R$ 250 mil. Identificamos também uma grande preocupação com roubo, pois o veículo está constantemente exposto. Com isso, passamos a ofertar tanto para táxi quanto para veículos de transporte por aplicativo o produto Auto Roubo + Rastreador, que é até 50% mais barato que o seguro tradicional. Além disso, temos outros serviços, inclusive assistência 24 horas”, diz Padial.

“O motorista de aplicativo tem na Ituran solução para as necessidades dele: roubo, furto, PT colisão, RCF-V e assistência 24h. Consideramos muito importante a cobertura compreensiva e responsabilidade civil, pois o motorista de aplicativo está muito exposto a colisões. Também fazemos ações direcionadas para esse perfil de cliente, mantendo a mesma regra de precificação dos demais condutores”, destaca Ramos.

Para alavancar as vendas deste produto, as seguradoras atuam com plano de ação. A Tokio Marine enfatiza o atendimento no primeiro momento em que o serviço de transporte por aplicativo foi regulamentado. “Somos reconhecidos por nossos corretores e assessorias no suporte a esse público. Isto faz com que mensalmente nossas vendas aumentem a uma taxa de
10%”, conta Padial.

Destaque no mercado

Após a regulamentação do transporte por aplicativo em São Paulo, o aumento da procura por contratação de seguro de automóvel ainda é um desafio de divulgação para o mercado. O corretor de seguros Richard Hessler Furck, acredita que a euforia inicial com a Uber passou, pois as oportunidades não estão sendo favoráveis. “Este tipo de público, lamentavelmente, não está contratando seguros, pois ficam bastante assustados com os valores que são até 100% ou 150% mais caros quando tarifados nesse ramo, e acabam ficando sem seguro, ou mesmo contratando rastreadores, ou outras soluções”, explica.

Deste modo, as companhias pretendem incentivar o corretor de seguros a prestar atenção neste segmento. A comunicação constante com os parceiros, auxílio na captação desse cliente reforçando o posicionamento de mercado, preços competitivos, coberturas e serviços adequados à necessidade de cada segurado, processos ágeis e qualidade superior na entrega.

Essa é uma tendência que veio para ficar, quase todas as seguradoras que atuam no segmento auto possibilitam a contratação de seguro para carros particulares de transporte. “Entretanto, a alta sinistralidade desse segmento tem assustado as seguradoras que estão com uma tarifa bastante agravada para esta categoria, o que ainda não gera tanta confiança”, ressalta Furck.

Hoje, com a Lei Seca em alta, o Uber ficou disputado. Uma situação que pode ajudar o corretor são parcerias com bares e restaurantes, sugere o corretor de seguros Régis Manoel. “Eles vão se tornar seu cliente, e com isso, você pega uma frota de 10 a 15 Ubers e deixa à disposição desses estabelecimentos, algo nesse sentido, proporcionando relacionamento a partir da sua carteira. O campo é muito amplo, o profissional precisa começar a fazer um brainstorming. Vejo que o Uber só veio para ajudar, e o interessante do mercado é isso, você fica atento a um seguro e ele abre um leque de opções para outros ramos. Temos sempre que nos preparar para novas tendências”, destaca Manoel.

Furck acredita que ainda há desafios a serem enfrentados e existem riscos de contratação. “O corretor deve ficar bastante atento, principalmente na orientação aos seus segurados, para que forneçam as informações corretas na hora de calcular o seguro. Entendo que o mercado como um todo (corretores, seguradoras e sindicatos) deva fazer uma grande campanha de conscientização neste sentido. Por enquanto, as oportunidades não têm sido maiores que os riscos e as perdas”, finaliza.

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