Corretora enfrenta os desafios das mudanças digitais
29 de março de 2019Corretoras tradicionais de seguros começam a apostar na transformação digital para fazer frente ao movimento iniciado pelas insurtechs. A mudança é mais acentuada entre as maiores empresas, com capacidade de investimento em processos e ferramentas, enquanto as menores ainda buscam seu posicionamento nesse novo universo.
A Alper, ex- BR Insurance e especializada em mercado corporativo, com 60% dos negócios na área da saúde, deve lançar em junho a primeira fase de sua plataforma digital de atendimento. É voltada ao processo de implantação de novos clientes com foco na área de recursos humanos.
A meta é facilitar processos com os clientes finais e aglutinar trabalhos como a emissão de uma segunda opinião para reembolso médico e emissão de carteirinhas, diz o CFO Lucas Neves.
Em outra vertente, a empresa lançou neste mês a Alper Digital, para acelerar entre três e cinco startups especializadas em seguros ou recursos humanos e aumentar o escopo de serviços prestados para o setor.
Hoje a empresa já oferece novidades como o sistema de controle de absenteísmo para identificar fraudes por meio do cruzamento de dados de faltas com atestados médicos. Uma das startups já identificadas oferece plataforma para auto inserção de dados por parte de novos usuários. “Um processo que levava uma hora poderá ser reduzido a dez minutos”, detalha Felipe Sigaud, líder da Alper Digital.
A iniciativa aproveita a experiência do CEO Marcos Couto, fundador da Duxx Investimentos, fundo de venture capital que tem investidas como a insurtech Tô Garantido. Nos três primeiros trimestres do ano passado, a Alper investiu R$ 2 milhões em tecnologia digital e registrou crescimento de 18,8% na receita líquida sobre igual período do ano anterior. A corretora também firmou parceria com corretora chinesa para prospecção de clientes chineses operando no Brasil e criou a Alper Associados, programa de indicação por agentes diversos, e Alper Partners, para agregar corretores especializados que queiram ampliar seu portfólio.
A Wiz, que tem a Caixa entre seus sócios e cuja atividade principal é a distribuição de seguros em agências bancárias, também elevou a aposta no digital. Em julho apresentou a unidade B2U, voltada ao relacionamento omnichannel com o cliente por meio de uma plataforma de CRM que integra ferramentas e canais como robôs, WhatsApp, SMS, página de internet e call center.
O cruzamento de dados permite identificar desde oportunidades de retenção e renovação até venda de produtos mais elaborados (upsell) ou ativação de serviços como assistência residencial. A unidade já fatura perto de R$ 20 milhões, dos mais de R$ 650 milhões anuais da empresa. Mas já comemora resultados como renovação de 85% no seguro automotivo e 70% do residencial entre clientes da Caixa acessados pela plataforma, segundo o diretor de operações da empresa, Heverton Peixoto.
Segundo ele, no ano passado a corretora investiu mais de R$ 15 milhões em soluções de tecnologia. No digital, incluindo pessoas, o número seria três ou quatro vezes maior, diz. A Wiz também firmou parceria com a GR1D, de Guga Stocco, criador da estratégia online do Banco Original.
Outra iniciativa apoiada em tecnologia é a Wiz BPO, braço de pós venda e cuidado com os clientes finais lançada em maio e duplicada com a aquisição, em dezembro, da CompLine. Hoje com 620 funcionários, sua meta de faturamento alcança de R$ 90 milhões em 2019.
A Aon, por sua vez, investe em tecnologia principalmente para geração de dados, incluindo analytics. “Um dos benefícios da tecnologia é a agilidade em buscar, compilar e analisar informações de variadas fontes, trazendo oportunidades para entregar novos produtos que atendem às necessidades dos clientes”, destaca o CEO Marcelo Homburger. Mas nem todas as corretoras já têm desenvoltura nesta seara.
“Ainda há receio no mercado de que a tecnologia vai destruir o corretor e isso não é verdade. Mas ele precisa se desenvolver digitalmente e escolher companhias mais digitais para ajudá-lo a vender”, defende Boris Ber, vice-presidente do Sincor-SP.
Ber lembra que serviços e processos que consumiam tempo hoje podem ser realizados por plataformas e aplicativos. Por isso, é necessário que o corretor se arme com recursos como sistemas de gestão ou multicálculo para apoiá-lo em ações como diversificação de carteira e vendas de produtos extras (cross sell).
O executivo também preside o grupo Asteca, que começa a digitalizar processos de vendas de produtos mais simples, como seguros de viagem ou de vida.
O presidente do Sincor-PR, José Antônio Castro, por sua vez, sentiu na pele o desafio de fazer de um negócio tradicional uma atividade digital. Ao contrário de insurtechs, a iniciativa, em curso em sua corretora, a Astrocor, exige investimento em plataformas tecnológicas, revisão de processos e novas regras de negócios, além de repensar fases operacionais e até mesmo questões jurídicas. “Os primeiros resultados estão na busca de leads”, avalia.
A transformação digital das corretoras será tema de curso da Escola Nacional de Seguros em abril, em São Paulo (SP), apresentado por Richard Furk, dono da H&H Corretora e da insurtech Dealerseg, voltada à indicação de leads e intermediação de negócios. Um dos pontos é mostrar que o movimento exige projeto de longo prazo. “A transformação é essencial, mas não será para o mês que vem”, alerta.
Fonte: Martha Funke para o Valor Econômico – 29/03/2019