
Artigo: Seguro e sensação de insegurança
10 de março de 2025Por Antonio Penteado Mendonça*
“O que é o que é que ruge feito leão, tem cara de leão, anda que nem leão, mas não é leão? É a mulher do leão”. A violência em São Paulo parece a mulher do leão. O governo afirma que está diminuindo, mas a população tem certeza de que está aumentando. De um lado, as estatísticas oficiais mostram números menos impressionantes; de outro, os mortos a troco de nada mostram uma realidade apavorante; no meio, o paulistano tem certeza de uma coisa: o melhor lugar para ficar é dentro de casa. Quer dizer, em princípio, porque os bandidos não se sentem ameaçados quando pulam os portões e muros para invadir residências e praticarem as maiores barbaridades com os moradores.
Muitos anos atrás, quando eu era comentarista do jornal da Rádio Eldorado, entrevistei um coronel da PM que garantiu que o índice de roubos próximo da Avenida Paulista tinha caído significativamente. Na mesma tarde, depois da entrevista, além de mim, foram assaltos um diretor e um superintendente da Rádio, parados no mesmo semáforo para pegar a Avenida Paulista. Acaso? Pode ser, mas não seria a primeira vez que as estatísticas mostram um quadro diferente do real. Assassinatos já foram registrados como “morte a se apurar”, distorcendo o número de homicídios das estatísticas.
A verdade é que, neste momento, há uma diferença gritante entre o que dizem as estatísticas e a sensação de insegurança da população. Por mais que as autoridades garantam que os crimes estão diminuindo, as cenas diárias de assaltos e crimes de todas as naturezas, incluídos assassinatos gratuitos, mostradas pelas TVs apontam a direção contrária e reforçam o medo de quem mora na cidade.
Não estou duvidando das estatísticas e informações dadas pelas autoridades, apenas ressalto que gato escaldado tem medo de água fria. Faz décadas que os brasileiros estão habituados a receberem informações que todo mundo sabe que são falsas, mas que são alardeadas como se fossem a salvação da lavoura ou a vitória na última copa do mundo de futebol.
Tanto faz, o que importa é que tem gente sendo assassinada antes de acontecer o roubo. A definição de latrocínio é o roubo seguido de morte ou, como diz um criminalista meu amigo, o latrocínio é o assalto que dá errado. O que está acontecendo não é isso. A vítima é morta primeiro e o celular roubado depois.
Num cenário como este tem pouca coisa que alguém pode fazer para minimizar seus riscos. Entre o pouco que pode ser feito está a contratação de apólices de seguros para garantir a reintegração do patrimônio eventualmente perdido em um assalto, sequestro, golpe do pix ou outro crime. O seguro não tem o dom de impedir que um assaltante atire contra sua vítima – o seguro não impede a ocorrência do evento coberto – mas a existência de uma apólice é um motivo forte para não se reagir a um assalto. Saber que o valor econômico do bem será reposto não impede a dor da perda, mas minimiza o prejuízo, já que o valor monetário é reembolsado pela seguradora.
Finalmente, a contratação de um seguro de vida e acidentes pessoais não impede o crime, mas garante à família da vítima os recursos para enfrentar a tragédia.
* Antonio Penteado Mendonça é escritor, advogado sócio da Penteado Mendonça e Char, formado pela USP, com especialização em Direito Ambiental pelo DSE, na Alemanha, e em Seguros pela FGV-Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. Também é professor, palestrante, escritor e ex-presidente da Academia Paulista de Letras.
Fonte: Estadão